É possível que a seca deste ano supere a de 2024? Entenda
13/09/2025
(Foto: Reprodução) Seca no Rio Madeira é a maior já registrada.
TV Globo/Reprodução
O Rio Madeira está com nível abaixo do esperado para setembro, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Ainda assim, os especialistas afirmam que a seca deste ano tende a ser menos intensa do que a registrada em 2024, quando o rio chegou ao menor nível já observado: apenas 19 centímetros.
No dia 9 de setembro de 2025, o nível do Madeira era de 2,74 metros. Um ano antes, na mesma data, o rio estava com apenas 91 centímetros. Os dados são do Sipam Hidro, sistema de monitoramento do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam).
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Segundo o SGB, apesar dos níveis do Rio Madeira estarem baixos, eles permanecem dentro da normalidade para esta época do ano. As previsões apontam para uma continuidade da descida em setembro, com recuperação a partir de outubro, sem sinais de uma seca severa.
De acordo com o pesquisador em geociências do SGB, Marcos Suassuna, em 2024 o Rio Madeira ficou 141 dias abaixo de 4 metros. Para este ano, a projeção é de apenas 70 dias nessa faixa, o que representa uma melhora significativa. A expectativa é que o nível do rio se mantenha acima de 2 metros durante todo o ano.
Ainda de acordo com Suassuna, a possibilidade de uma seca mais severa estará relacionada a um eventual atraso no início das chuvas de outubro.
“Caso isso [o atraso das chuvas] aconteça, a estiagem pode ser mais severa do que o previsto. Ainda assim, as chances de se repetir uma situação extrema como a de 2024 são muito baixas”, explica Marcos.
A seca extrema do Rio Madeira em 2024 é resultado de uma combinação de fatores climáticos e geográficos. São eles:
O Oceano Atlântico Norte estava mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul, e seu aquecimento contínuo era motivo de preocupação para os especialistas.
O Fenômeno El Niño causou atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.
A estação chuvosa muito pobre resultou em cheias abaixo do normal e, consequentemente, em níveis mais baixos do rio. Porto Velho, por exemplo, ficou quase três meses sem chuva significativa.
Cerca de 70% da vazão do Rio Madeira depende de rios localizados na Bolívia e no Peru. Sem chuvas nessas cabeceiras andinas, o Rio Madeira em Rondônia não sente os efeitos das chuvas locais, mesmo que ocorram temporais no estado.
Para 2025, o cenário climático é mais favorável. O SGB consultou previsões de dez instituições nacionais e internacionais, e nenhuma aponta anomalias negativas de chuva para o próximo trimestre. Também não há indicativos de atraso na estação chuvosa. A previsão é de condições neutras para os fenômenos El Niño e La Niña, o que contribui para uma vazante mais branda.
O monitoramento do Rio Madeira continua sendo feito de forma rigorosa. O SGB realiza medições contínuas em todas as estações, emite boletins semanais e extraordinários, e mantém diálogo com órgãos como DNIT, Marinha, Defesa Civil e instituições de saneamento e navegação.
Mesmo com a previsão mais favorável para este ano, o SGB recomenda que a população ribeirinha e outras pessoas que dependem ou usam o rio continuem acompanhando os boletins oficiais e se preparem para possíveis variações nos níveis do rio.
Seca histórica
A seca extrema que atingiu o Rio Madeira em 2024 trouxe consigo uma série de efeitos, marcando o período como um dos piores já registrados. Este cenário de estiagem extrema fez com que Porto Velho e outros municípios do estado fossem declarados em situação de emergência.
Um dos impactos mais diretos e severos foi na navegação e na economia local. Pela primeira vez na história, o Porto de Cargas de Porto Velho, crucial para o escoamento de produtos como soja e biocombustíveis, foi paralisado em 23 de setembro devido à inviabilidade para grandes embarcações.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) chegou a declarar "situação crítica" de escassez hídrica e admitiu a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio, que opera no formato "fio d'água" e depende do fluxo constante do rio.
As comunidades ribeirinhas foram as mais afetadas pela seca histórica. Em Terra Firme, por exemplo, comunidade às margens do Madeira, moradores precisavam caminhar por quase 30 minutos sobre bancos de areia para chegar ao rio e dependiam de bombas de drenagem, cujas mangueiras já não alcançavam a água devido à grande distância.
Além disso, a seca teve efeitos ecológicos e na geração de energia. Espécies de peixes da Amazônia, como o pirarucu e o surubim, foram encontradas mortas em lagos e córregos que secaram na comunidade Maravilha.
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