Bobbie Goods: técnicas de colorir usadas em livros virais já foram utilizadas por Van Gogh, Botticelli, Caravaggio e outros artistas

  • 28/06/2025
(Foto: Reprodução)
Adeptos dos livros de colorir têm extravasado a ideia de simplesmente colorir um desenho bidimensional e estão transformando as ilustrações por meio de texturas, noções de profundidade e de iluminação. Técnicas de Van Gogh e Caravaggio são utilizadas para colorir Bobbie Goods Os livros de colorir se tornaram uma febre tanto na internet quanto fora dela. Os mais populares entre crianças e adultos são, atualmente, aqueles conhecidos como "Bobbie Goods". E o que para muitos parece mais um hobby pode, na verdade, ser uma expressão artística autêntica e ter, inclusive, conexão com obras famosas. 👉🏾 "Bobbie Goods" é o nome de uma marca específica, criada pela artista visual norte-americana Abbie "Bobbie" Gouveia. Os livros contam com cenas com grupos de ursinhos, cachorros e outros animais que devem ser pintados com canetas hidrográficas específicas. Os produtos foram trazidos ao Brasil pela editora HarperCollins, e, com a popularização da linha, versões genéricas também estão sendo comercializadas por camelôs. Isso e aquilo (This & That), livro de colorir Bobbie Goods Divulgação Acontece que muitos pintores de Bobbie Goods têm extravasado a ideia de simplesmente colorir um desenho bidimensional e estão transformando as ilustrações por meio de texturas, noções de profundidade e de iluminação, tal qual artistas que estudamos no ensino fundamental, como Van Gogh, Sandro Botticelli e muitos outros fizeram em suas obras famosas. “É interessante como as pessoas transformam um desenho 2D, teoricamente simples, em uma imagem composta com elementos que despertam sensações sensoriais intensas”, avalia a coordenadora de Artes do Colégio Matriz Educação, Luiza Carrera. Fabiana Medeiros, que cursa doutorado no departamento de História da Arte de Oxford, na Inglaterra, destaca que os movimentos artísticos, estilos de pintura e material utilizado não são equivalentes. E isso não desqualifica o movimento dos Bobbie Goods, e nem significa que as pessoas adeptas dessa atividade são equiparáveis a artistas clássicos. Mas estamos falando de um valor que é definido pela experiência pessoal e emocional de cada um. A partir dessa proposta, Fabiana Medeiros e Luiza Carrera avaliaram alguns vídeos populares de Boobie Goods das redes sociais e estabeleceram alguns paralelos com as técnicas usadas nas obras de artistas famosos. Texturas (Noite Estrelada, de Van Gogh) Lado a lado de "A noite estrelada" e uma pintura de Bobbie Goods de @niina.color. Arte: Gui Souza/g1 Para Fabiana Medeiros, a primeira sensação que a obra pós-impressionista de Van Gogh é a de texturas. Toda a noção de profundidade, de composição da imagem, é acompanhada pela emoção despertada pela textura de cada elemento que compõe a cena. Mesmo os elementos que não conseguimos tocar, como as nuvens ou as montanhas ao fundo, estão inerentemente conectadas a sensações da vida real. Segundo ela, a sensação é alimentada pelas marcas claras da pincelada do artista, mesmo sem que o observador toque a obra original. Paralelamente, a usuária @nina.color do TikTok publicou um tutorial de pintura de Boobie Goods focado especificamente em textura. No vídeo, ela foca na textura de bordados. “Obviamente, o estilo de pintura, o material e a tela são completamente diferentes, mas a sensação imediata é a mesma, mesmo que as emoções conectadas a cada pintura não seja. Ao olhar para essa pintura, nós automaticamente invocamos a sensação do bordado, do toque”, explica Medeiros. Iluminação (Vocação de São Mateus, de Caravaggio) Lado a lado de "Vocação de São Mateus" e uma pintura de Bobbie Goods de @camilustras. Arte: Gui Souza/g1 Na obra de Caravaggio, Luiza Carrera avalia que o destaque é a perspectiva que iluminação dá para a cena, permitindo uma noção de profundidade. O jogo de luz e sombras usado pelo artista é claro. Ele destaca alguns elementos por meio da luz que vem de um ponto focal específico, o que, automaticamente, joga sombras sobre outros pontos da obra. Segundo ela, isso não difere muito da intenção da usuária @camilustras em uma das pinturas que compartilhou nas redes sociais. Na versão dela, o ponto focal é a tela de uma televisão, que ilumina o ângulo atingido pela tela, mas ofusca outras partes da cena. Cor e movimento (O nascimento de Vênus, de Botticelli) Lado a lado de "O nascimento de Vênus" e uma pintura de Bobbie Goods de @andrezafaria Arte: Gui Souza/g1 Essa obra de Botticelli é composta por muitos elementos e cores que contam uma história complexa. O sopro de Zéfiro, os movimentos nas roupas e cabelos, as cores. Mas vênus chega em seu barco-concha carregada pelas ondas do mar, que têm um papel fundamental na cena. Fabiana Medeiros explica que, por mais que as ondas não sejam o ponto focal da obra – como ocorre, por exemplo, em “A Grande Onda de Kanagawa”, de Katsushika Hokusai –, o artista optou por deixar ondulações e outras noções de movimento por meio das cores usadas. A técnica é diferente da usada pela usuária @andrezafaria no TikTok, que coloriu seu próprio mar aplicando noções de cores e movimentos que imitam ondas com espumas e outros elementos que evocam a imagem intencionada. Textura (Quarto em Arles, de Van Gogh) Lado a lado de "Quarto em Arles" e uma pintura de Bobbie Goods de @leah.colour. Arte Para a historiadora da arte, Fabiana Medeiros, um dos grandes diferenciais do trabalho de Van Gogh é a textura que ele evoca. Na obra “Quarto em Arles”, ela destaca o empenho do artista nos objetos de madeira. “O piso, os móveis, a armação da janela, os quadros na parede, tudo tem uma textura única, diferente da outra. Além das cores, que deixam isso claro, o sentido das pinceladas de cada parte da pintura também destaca as diferentes sensações que aqueles objetos causariam ao toque se fossem reais”, avalia. A usuária @leah.colour também destacou este aspecto em uma de suas pinturas de Bobbie Goods. Por meio de técnicas de iluminação e de coloração do ambiente, ela dá à cama, aos móveis e ao chão que compõem o ambiente diferentes aspectos que, visualmente, provocam sensações diversas. Pontilhismo (Garota chorando, de Roy Lichtenstein) Lado a lado de "Garota Chorando" e uma pintura de Bobbie Goods de @tha.arte. Arte: Gui Souza/g1 “Roy Lichtenstein é mundialmente conhecido como um artista do movimento do Pop Art e o uso do pontilhismo é um destaque fundamental para a construção de suas obras”, avalia Luiza Carrera. Os trabalhos de Lichtenstein são marcados por linhas fortes, cores marcantes e uma composição parcial com uso de pequenos pontos. Apesar de utilizar a técnica, ela divide espaço com técnicas de coloração mais clássicas. Ela faz um paralelo do estilo do artista com uma das pinturas de Bobbie Goods feita pela usuária @tha.arte, que usa o pontilhismo como parte da composição da imagem, mesmo utilizando outras técnicas de pinturas, apoiadas em cores fortes e concretas. VÍDEO Bobbie Goods e a saúde mental

FONTE: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2025/06/28/bobbie-goods-tecnicas-de-colorir-van-gogh-botticelli-caravaggio.ghtml


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